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quarta-feira, 6 de junho de 2012

PASTORES DE ALMAS, UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO?


Por Renato Vargens
Há pouco tempo ouvi uma história a qual compartilho com vocês. Uma irmã (a qual, por questões obvias, não vou revelar o nome e igreja), passou pela seguinte experiência:
Em um final de culto, movida por um grave problema pessoal, ela procurou o seu pastor, no desejo de abrir o coração, pedindo-lhe que a ajudasse em aconselhamento pastoral. O pastor, sem poder ouvi-la naquele momento, até porque muita gente desejava lhe falar e, principalmente, cumprimentá-lo em virtude do “maravilhoso sermão “que havia pregado, solicitou à irmã que procurasse a secretaria da igreja e agendasse um encontro.
No dia seguinte a irmã procurou a secretaria, tentando agendar o encontro pastoral; no entanto, para sua surpresa, a secretária informou que o tal pastor não teria agenda livre para os próximos cinco meses, o que impossibilitaria o seu atendimento. A moça se desesperou, implorou, pediu pelo amor de Deus, mais nada pôde ser feito. A secretária explicou que o pastor tinha já agendado muitos encontros, jantares, viagens e conferências, as quais tinham que ser priorizadas, e que o máximo que ela poderia fazer seria encaixá-la num atendimento, quatro meses depois.
A moça saiu da igreja, naquela manhã de segunda-feira, pior do que entrara; na verdade, agora ela se sentia deprimida, desvalorizada e sem perspectiva alguma de ser ajudada em seu problema. O pastor, o qual ela pensava que poderia ajudá-la, infelizmente não poderia fazê-lo.
Seis meses se passaram e a moça desiludida, bem como desesperançosa, não fora mais à igreja. Para sua tristeza, ninguém, absolutamente ninguém, a procurara, querendo saber o motivo de sua ausência. Até que um dia, o pastor da igreja da qual fazia parte, encontrou-a na instituição bancária onde ela trabalhava. Ao vê-la, o pastor não esboçou nenhum comentário quanto à sua ausência; na verdade, a única coisa que falou, é que estava correndo em virtude da grande e complexa agenda.
Não sei o que você pensa e sente ao ler essa pequena história. Entretanto, quando soube do fato, fui tomado por uma grande perplexidade que me fez questionar sobre o papel pastoral nos dias de hoje. Aonde estão os pastores do povo de Deus? Aonde estão aqueles que por amor ao Rei, largam as 99 ovelhas e vão em busca de uma que se perdeu e sofre? Sem sombra de dúvidas, vivemos uma enorme crise de pessoalidade e afetividade na relação pastor-ovelha, isso porque, alguns dos ditos pastores se tornaram mega-stars da fé, imponentes pregadores, “Apóstolos desbravadores”, além de “poderosos profetas”. Junta-se a isso, o fato de que as mensagens pregadas nos púlpitos têm tido por fundamento o marketismo religioso, cujo conteúdo é humanista e secularizado. Infelizmente, sou obrigado a concordar que tais pastores têm se preocupado mais com a porta de entrada, do que com a porta de saída dos seus apriscos; mais com números do que com gente. Na verdade, ouso afirmar de que vivemos numa era onde as pessoas foram definitivamente coisificadas, onde seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus transformaram-se em gráficos e estatísticas.
Diante desta nebulosa perspectiva, sou tomado pela imprenssão de que essa geração necessita urgentemente de pastores de almas, de gente abnegada, que se preocupe com a dor do próximo e tenha prazer em cuidar da ovelha ferida. Para tanto, torna-se indispensável remodelar e reformar os conceitos pastorais desta geração, impregnando nos novos ministros, amor, compromisso e fidelidade para com Deus e seu Reino. Além disso, julgo também que seja imprescindível de que os pastores desse tempo, sejam plenamente comprometidos com a Santa Palavra de Deus, preocupando-se com o que ela diz, tomando-a como regra, bem como modelo de fé e comportamento para o seu ministério pessoal.
Vale a pena lembrarmos daquilo que o reformador francês João Calvino costumava dizer quanto a Palavra de Deus. (1) “A Escritura é a fonte de toda a sabedoria, e os pastores devem extrair dela tudo aquilo que expõem diante do rebanho” (2) Calvino afirmava que através da exposição da Palavra de Deus, as pessoas são conduzidas a liberdade e a segurança da fé salvadora, dizia também que a verdadeira pregação, tem por objetivo abrir a porta do reino ao ouvinte, isto é, em outras palavras o que ele está a nos dizer, é que as Escrituras Sagradas, devem ser o principal instrumento na condução, consolidação e pastoreamento do povo de Deus.
No exercício de seu pastorado, Calvino dizia que a pregação pública deveria ser acompanhada por visitas pastorais. (3) Junta-se a isso o fato, de que ele sempre procurou encorajar pessoas sobrecarregadas, as quais não conseguiam encontrar consolo mediante sua própria aproximação de Deus, a procurarem seu pastor para aconselhamento particular e pessoal.
Conforme registro de um dos seus colegas pastores em Genebra, “(…) os que lhe procuravam eram recebidos com simpatia, gentileza e sensibilidade. Ele os atendia e prontamente lhes respondia as perguntas, mesmo as mais sérias delas. Sua sabedoria era demonstrada nas entrevistas particulares tanto quanto nas conversas públicas onde ele confortava os entristecidos e encorajava os abatidos…”. [4].
Calvino também acreditava que o ensino, além de ser público nos cultos, deveria ser acompanhado por orientação pessoal e aplicado às circunstâncias específicas da vida de suas ovelhas. Atendia noivos que estavam se preparando para o casamento, pais que traziam seus problemas relacionados aos seus filhos, pessoas com dúvidas ou dificuldades doutrinárias, lutas com enfermidades, ouvia confissões de pecados, e a todos ele os recebia e levava o conforto e o encorajamento necessários. [5]
Amados irmãos, ainda que os nossos dias, sejam diferentes dos dias dos reformadores, carregamos em nosso tempo as mesmas demandas pastorais. Nossas igrejas estão cheias de individuos em crise, de familias desestruturadas, além de pessoas que foram violentamente marcadas por satanás e o pecado. Ouso afirmar que neste tempo pós moderno, onde o relativismo tem mostrado as suas garras, necessitamos urgentemente de pastores preparados e capacitados, que amem a Deus acima de todas as coisas, e que se disponham a pastorear abnegadamente o rebanho de Cristo.
Que Deus tenha misericórdia de seu povo e levante pastores segundo o seu coração.

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